sexta-feira, 23 de março de 2012

Algumas reflexões e esclarecim​entos dirigidos aos atletas/pr​ofessores/​pais

Em todas as idades, o processo de treino visa induzir alterações (no sentido obviamente desejado) nos comportamentos sociais, táticos, técnicos e físicos dos atletas. Não raras vezes, o alcance daquele objetivo é comprometido por conflitos surgidos entre os principais atores do processo: entre treinadores/atletas, pais/atletas e treinadores/pais.
Tendo como única finalidade procurar eliminar algumas das eventuais fontes de conflito, o departamento técnico da Escola Crescer acha oportunos os seguintes esclarecimentos:

1. Modelo de jogo
Modelo de jogo é a forma como as equipas pretendem jogar - atacar e defender. É formado por princípios fundamentais e de organização coletiva – isto é, por regras/normas de ação que orientam a tomada de decisão dos jogadores no jogo.
A Escola Crescer possui um conjunto de princípios de organização coletiva (modelo de jogo) que treina sistematicamente nas sessões de treino para serem exercitados e aplicados nos jogos.
i) Jogar com o GR para reorganizar o ataque e/ou manter a posse da bola; ii) sair a jogar curto pelo GR; iii) conduzir a bola até à zona de finalização através de combinações táticas (passa, apoia, desmarca, … passa, apoia, desmarca, etc.); iv) criar situações de finalização através do drible ou de combinações táticas na zona de finalização; v) não dá para finalizar, jogar para trás (para GR ou defesas) para reorganizar o ataque e começar tudo de novo – são alguns dos princípios integrantes do modelo de jogo que pretendemos ver jogado pelas equipas de Escola Crescer.
Expressões como chuta!, bate!, alivia!, cruza!, centra!, boa! (quando chutam com força para fora ou para a frente) não são coerentes com aqueles princípios. Por isso, treinadores e pais devem abster-se de gritá-las para dentro do campo porque conflituam com o que é pedido aos atletas e treinado nos treinos. Induzem hesitações, levam a fazer aquilo que os atletas não sabem nem estão habituados a fazer. Perturbam mais do que ajudam.
Há outros modelos? Claro que há - tantos quantos treinadores e pais de atletas existem. Alguns até poderão ser mais eficazes no que concerne a resultados desportivos (vitórias). Todavia, o modelo perseguido e muitas vezes aplicado pelas nossas equipas é um dos que melhor promove o desenvolvimento tático e técnico dos atletas e das equipas - objetivo maior da formação em futebol.


2. No jogo quem joga são os jogadores
Durante o jogo, os jogadores estão constantemente a tomar decisões sobre “o que fazer”. Não o podem ou devem fazer em função de instruções diretas de treinadores e pais, mas sim em função da articulação dos princípios de jogo exercitados nos treinos, da “leitura/avaliação" que eles próprios fizerem das situações momentâneas de jogo e da perceção que eles próprios tiverem das suas capacidades.
Sendo assim (e nós acreditamos que é), instruções sobre “o que fazer” do tipo - remata, chuta, bate, vai, fica, etc., etc., gritadas para o campo por treinadores ou pais, não promovem o desenvolvimento da capacidade de decisão, da autonomia, da criatividade e da disponibilidade para assumir riscos – ingredientes determinantes do “jogar bem”. Pelo contrário, quase sempre perturbam, desconcentram, tornam hesitantes e dependentes os jogadores. Induzem-nos a errar mais do que a acertar.

3. Envolvimento dos pais na vida desportiva dos filhos
Existem quatro perfis do envolvimento dos pais na atividade desportiva dos filhos: pais desinteressados, pais informados, pais excitados, pais fanáticos. A zona de conforto situa-se no perfil – “pais informados” a que corresponde um envolvimento moderado. Envolvimentos excessivos, típico de pais excitados e pais fanáticos, induzem estados de ansiedade insuportáveis para a maior parte dos atletas, reduzem o interesse e a motivação pela prática desportiva, baixam os níveis de rendimento nos treino e nos jogos, são a principal causa de abandono da atividade desportiva.


4. Síntese
A título de conclusão, recordamos algumas das normas referentes ao envolvimento dos pais na atividade desportiva dos filhos constantes no regulamento interno da Escola Crescer.
1. Apoiar sempre e acompanhar sempre que possível os filhos na atividade desportiva, mas sem os pressionar e sem se intrometerem no trabalho dos treinadores, dos atletas e dos árbitros.
2. Encorajar a ajudar os filhos a respeitarem as regras e o espírito desportivo.
3. Valorizar e elogiar, acima de tudo, o esforço realizado e os progressos conseguidos (mesmo que ligeiros).
4. Ser expansivo e entusiasta no apoio às equipas e aos atletas durante os jogos (gritar o nome da equipa, gritar o nome dos jogadores, incentivar a equipa e os jogadores ao esforço, à valentia e à determinação, etc. etc.).
5. Ter um comportamento respeitador e comedido em todos os momentos, procurando: i) não interferir no trabalho dos treinadores; ii) não controlar de perto os filhos quer durante os treinos, quer durante os jogos; iii) não ditar/gritar ordens/instruções de natureza tática (sobre o que fazer) durante os treinos ou as competições; iv) não discutir, de forma exacerbada, com os árbitros, treinadores e pais de outras crianças; v) não comentar publicamente, ou em casa na presença dos filhos, de forma depreciativa, o comportamento de outros jogadores, de treinadores, de árbitros e de outros pais; vi) não valorizar excessivamente os resultados desportivos alcançados (positivos ou negativos).

2 comentários:

  1. domingos.ramalho@sapo.pt27 de março de 2012 às 17:38

    Boa tarde, estive a ler a vosso tema,e é um facto que esta estampado a realidade do nosso desporto (futebol), por isso sera possivel o envio PDF, a fim de colocar em sede de clube para que todos leiam

    ResponderEliminar
  2. Boa noite, sou treinador da equipa de traquinas de 2003 do SCVR e sou um admirador do vosso trabalho e forma estar no futebol. Por gostar de ter lido e por ser uma luta que travo à 2 anos que oriento esta equipa deixo aqui 3 ligações para artigos do meu blog relativamente a este tema.

    http://scvilareal2003.blogspot.pt/2011/06/e-relativamente-pacifico-em-termos-da.html

    http://scvilareal2003.blogspot.pt/2012/01/devolvam-o-jogo-as-criancas.html

    http://scvilareal2003.blogspot.pt/2012/01/eu-quero-que-o-meu-filho-de-8-anos.html

    Saudações desportivas
    Abraço

    ResponderEliminar