terça-feira, 16 de novembro de 2010

Critérios de participação nos campeonatos distritais

Entrámos (dia 13 de Novembro) no “período competitivo” – um período motivante, altamente potenciador do desenvolvimento e da aprendizagem dos atletas, mas também gerador de desconfortos, insatisfações, frustrações e equívocos. Conciliar as aspirações e os objectivos individuais com as aspirações e os objectivos da Escola e do grupo/equipa ou escalão não é tarefa fácil. Tendo em vista, tornar menos complexa esta tarefa, achamos oportuno explicitar o nosso entendimento sobre os pontos geradores de maior polémica.

O conceito de Escola de Futebol.
Há 15 anos não havia escolas de futebol em Portugal. Havia clubes que davam formação apenas aos mais hábeis. Com a difusão do movimento “desporto para todos” surgiu a necessidade de criar espaços de acolhimento também para aqueles que, não tendo espaço nos clubes, queriam e gostavam de jogar futebol. Foi assim que começaram a aparecer nos últimos anos da década de 80 do século passado as escolas de futebol em Portugal. A Associação de Escolas de Futebol (APEF) e as escolas nela inscritas começaram por ter objectivos essencialmente recreativos. Nas escolas, as crianças treinavam duas ou três vezes por semana e participavam uma vez por mês em convívios desportivos organizados pela APEF ou pelas próprias escolas (convívios similares ao “Crescer Jogando” organizado pela Escola Crescer no final de cada época desportiva). Nestes torneios não havia apuramento de resultados nem, consequentemente, campeões.
Nos primeiros anos da década de 90, para responder à necessidade de reter/fixar os melhores atletas, a filosofia das escolas evoluiu: deixaram de se orientar apenas por objectivos formativos e recreativos e passaram a perseguir também objectivos competitivos. As escolas começaram a inscrever-se nas associações de futebol, começaram a federar os seus melhores atletas e passaram a disputar os quadros competitivos organizados pelas associações de futebol em pé de igualdade com os clubes.
Presentemente, a maior parte das escolas do litoral possui um modelo híbrido: os atletas mais hábeis participam nos campeonatos organizados pelas associações de futebol e os menos hábeis participam apenas nos convívios desportivos (são clube e escola em simultâneo).
As poucas escolas que existem no interior (a Escola Crescer é a única existente no distrito), não tendo atletas suficientes para constituir dois grupo distintos (federados e não federados) nem dinheiro para participar nos convívios desportivos realizados, uma vez por mês, no litoral, evoluíram adoptando parte da filosofia e da prática dos clubes.
Sem competição, não há motivação para treinar. Se a Escola Crescer quiser continuar em actividade, tem que competir e se quiser competir tem que participar nos mesmos quadros competitivos em que participam os clubes da região (não tem condições financeiras para deslocar 50/60 atletas uma vez por mês ao litoral). Consequentemente, tem que utilizar lógicas e práticas similares às utilizadas pelos clubes.

Critérios orientadores da participação dos atletas na 1ª fase dos campeonatos distritais
Conciliar resultados competitivos (elevados como todos desejamos) com o princípio da igualdade de oportunidades competitivas não é tarefa fácil. Nunca se agrada a todos: os convocados com mais frequência andam contentes e os restantes descontentes.
Esperamos que todos compreendam que, de acordo com os regulamentos da associação, só podemos convocar para cada jogo 12 atletas e que, se o grupo tiver 20 atletas, 8 têm que ficar de fora.

Critérios de convocação? São os seguintes:
1. Todas as 5ª feiras, o professor/treinador constitui dois grupos de atletas: o grupo dos não convocáveis e o grupo dos convocáveis.
2. O grupo dos não convocáveis é constituído pelos atletas que tenham acumulado, até àquele dia, 3 cartões amarelos. Um cartão amarelo é atribuído sempre que o atleta: a) falte a uma sessão de treino; b) seja punido pelo professor/treinador com um cartão amarelo devido a comportamentos inapropriados assumidos numa ou em mais que uma sessão de treino (participação desconcentrada e desmotiva nas actividades, violação das regras de funcionamento, atitudes impróprias, etc.); c) tenha classificação negativa num teste escolar; d) incorra em falta disciplinar no estabelecimento de ensino que frequenta.
O grupo dos convocáveis é constituído pelos restantes atletas.

Observações:
a) Com estes critérios pretendemos valorizar competências de dois importantes domínios: do domínio do “saber ser”/“saber estar” (responsabilidade, espírito de sacrifício, respeito pelas regras, pelos colegas e pelo grupo) e do domínio cognitivo (aproveitamento escolar).
b) Só contarão como “amarelos” as classificações negativas obtidas nos testes e as faltas disciplinares tidas pelos atletas no estabelecimento de ensino que frequentam se forem comunicadas de forma explícita pelos pais/encarregados de edução aos treinadores.
3. Do grupo de atletas convocáveis e disponíveis (pode haver atletas convocáveis que não estão disponíveis), o professor/treinador fará a convocatória com base na articulação de 3 critérios: a) performance desportiva dos atletas; c) previsão do grau de dificuldade do jogo; c) rotatividade.
Estes critérios devem ser interpretados da seguinte forma:
a) Para todos os jogos, mesmo para os considerados fáceis, será sempre convocado um grupo de 6/7 atletas dos mais hábeis (valorização do equilíbrio competitivo, do resultado, da equipa/escalão e da Escola). Obviamente que esta norma terá uma consequência: os atletas mais hábeis serão convocados mais vezes do que os menos hábeis (mas nos jogos fáceis deverão jogar menos tempo).
b) Atletas convocados: a) todos são titulares – isto é, todos podem começar no banco e todos podem fazer parte da equipa que inicia o jogo; b) por norma, todos participarão no jogo, embora com tempos diferentes (nos jogos difíceis jogarão mais tempo os jogadores mais hábeis e nos jogos fáceis os menos hábeis).
c) No final da 1ª fase do campeonato, gostaríamos que todos os atletas tivessem tempos de jogo sensivelmente iguais (esta norma deve ser entendida com um objectivo, como uma intenção; o seu alcance dependerá obviamente do nível de dificuldade dos jogos e da forma como decorrer o campeonato).
O desporto (e a vida) é selectivo. Por norma, os mais hábeis, tanto no desporto como na vida, têm mais oportunidades de estar nos eventos importantes (para as crianças, os jogos são acontecimentos importantes). Compete aos treinadores e aos pais preparar as crianças para se adaptarem a agirem em conformidade com esta realidade.
Sabemos que há crianças que reagem mal quando não são convocadas. Os treinadores, nos treinos e os pais, em casa, devem estar particularmente atentos às reacções destas crianças e devem esforçar-se por fazê-las entender: a) que só podem ser convocados 12 para cada jogo e que os restantes têm necessariamente de ficar de fora; b) que os de performance mais elevada (na maior parte das vezes também mais velhos), por norma, são convocados mais vezes do que os de performance mais baixa; c) que os de performance hoje mais baixa, poderão amanhã pertencer ao grupo dos de performance mais elevada se não desistirem e se esforçarem; c) que pertencem a um grupo e que há muitas formas da dar um contributo positivo para a coesão e o sucesso do grupo (contributo que pode passar por ficar de fora em alguns jogos); d) que é importante, para a coesão e o sucesso do grupo/equipa, o apoio de todos, inclusive daqueles que ficam de fora de vez em quando (registamos com muito agrado a presença de atletas não convocados e dos respectivos pais a assistir aos jogos da sua equipa – pensamos que esta prática poderá ser mais uma forma de integrar os não convocados no grupo e de atenuar os efeitos negativos da não convocação; pensamos ser igualmente positivo fazer-lhes sentir que, mesmo não jogando, pertencem ao grupo, que, mesmo nessas ocasiões, devem querer o sucesso do grupo e que, em todos os momentos, devem apoiar o grupo).

Atitude dos treinadores, dos pais e dos atletas perante os resultados competitivos
1. Quem compete aceita o desafio e corre o risco de perder ou empatar. “Ganhar ou perder, tudo é desporto”. Nada mais errado. No desporto, como na vida, temos a obrigação de procurar sempre a vitória, cientes, no entanto, de que nem sempre conseguiremos ganhar.
2. Quando ganhamos, temos a vida facilitada. Basta resfriar as euforias exacerbadas; dar os parabéns; realçar os aspectos positivos, sobretudo o esforço, a concentração e o empenho.
3. Quando perdemos, tudo se complica. Nestas ocasiões, é importante:
a) Não dramatizar, mas também não dizer que “ganhar ou perder, tudo é desporto”. Para as crianças, o desporto e a competição são coisas sérias. Por isso, não valorizar em demasia a derrota (ou a vitória), mas também não desvalorizar. Perder não é bom, mas no desporto, se calhar mais do que na vida, há sempre uma segunda oportunidade, há sempre uma oportunidade de desforra. Há que aproveitar a segunda oportunidade para tentar fazer melhor do que na primeira.
b) Não culpar nada nem ninguém (sobretudo árbitros, treinadores ou colegas). Todos conhecemos algumas pessoas bem sucedidas que têm a tendência para justificar os sucessos com base em factores de natureza interna (competências e capacidades que possuem) e os insucessos com base em factores de natureza externa (azar, arbitragem, falhas dos colegas, falhas do treinador, condições climatéricas, má disposição, etc.). No entanto, na formação, não é uma boa ideia atribuir os maus resultados a comportamentos de terceiros (árbitros, treinador ou colegas) ou ao azar. Podemos ficar aliviados e desresponsabilizados, mas pouco ou nada aprendemos ou evoluímos (é que nem sequer tomamos consciência dos erros e, para evoluir, é necessário reconhecer e tomar consciência dos erros). Atitude bem mais pedagógica e instrutiva consiste em procurar encontrar explicação tanto para os sucessos como para os insucessos nos factores internos (esforço, concentração, espírito de sacrifício, vontade, resistência às pressões, competência táctico-técnica). Estes são os factores que podemos e que devemos aprender a controlar. Por isso, uma análise calma e objectiva centrada naquele conjunto de factores pode ajudar a ultrapassar o “peso” das derrotas e, simultaneamente, pode ajudar a aprender e a evoluir.
Não dramatizar e avaliar objectivamente, sem julgar, sem recriminar e sem culpar é, pois, o caminho a seguir.

Critérios a adoptar na 2ª fase do campeonato (se chegarmos lá)
Nesta fase privilegiaremos o resultado, a equipa/escalão e a Escola. Por isso, de todos os atletas disponíveis em cada escalão (se os regulamentos da associação o permitirem, no escalão de infantis serão todos os atletas do escalão independentemente de serem do 1º ou do 2º ano, da equipa A ou B), os treinadores convocarão, dos convocáveis (os que não tiverem 3 amarelos), para cada jogo, os 12 atletas que em sua opinião estejam em melhor forma física, psíquica e táctico-técnica.

Outras informações:
a) O grupo de escolas participará também no campeonato de futebol de Futsal (não sabemos ainda quando começará).
b) Está previsto haver, depois de terminada a 1ª fase do campeonato, um quadro competitivo tipo taça para as equipas que não passarem à 2ª fases. Nesta “taça”, se a houver, participaremos com uma ou duas equipas no escalão de infantis (uma - se passar uma das equipas à 2ª fase; duas - se não passar nenhuma). No escalão de infantis, se passarmos com uma equipa à 2ª fase e se o regulamento o permitir, a constituição das equipas poderá não ser a mesma da 1ª fase. A nossa maior aposta será no campeonato. Vejam nesta postura também uma forma de valorizar o esforço, o empenho e a progressão de todos os atletas do escalão, independentemente de pertencerem, na presente fase, à equipa A ou B.